segunda-feira, 6 de maio de 2013

70% da matéria no universo é energia escura, diz Brian Schmidt



(Info Exame) A descoberta de que o Universo se expande de forma cada vez mais rápida e não cada vez mais devagar, como se achava, é considerado um dos achados mais importantes da ciência, e se soma a outros avanços fundamentais que surgiram da observação das estrelas mais distantes, mediante telescópios de última geração.

O professor Brian Schmidt dividiu o Prêmio Nobel de Física 2011 com os astrônomos Adam Riess e Saul Perlmutter pela descoberta, obtida a partir da luz emitida pelas supernovas.

O cientista nasceu em 1967 na cidade de Missoula, nos Estados Unidos, e atualmente trabalha como astrofísico pesquisando supernovas, enormes explosões estelares que produzem brilhos intensos durante semanas ou meses. Devido a sua trajetória e descobertas Schmidt recebeu nos últimos anos diversos prêmios científicos.

O professor dirigiu o programa de High-z SN, que buscou evidências da expansão do Universo através do tempo, a quase oito milhões de anos luz e, em 1998, encontrou indícios da expansão acelerada do Universo junto com a equipe do Supernova Cosmology Project. O astrofísico também lidera o projeto do telescópio SkyMapper, com o qual prevê elaborar o primeiro mapa digital do espaço do hemisfério sul. "Um ciclo de expansão e contração é improvável".

Apesar de não se saber do que a maior parte do Universo é composta, o que implica em um alto grau de desconhecimento, Schmidt defende a validade do atual modelo padrão, que inclui o ´Big Bang´ (a grande explosão inicial que deu origem ao tempo, o espaço e tudo o que existe) e a posterior expansão que ainda prossegue, como ele descobriu, de forma acelerada.

Segundo estudos efetuados pelo telescópio espacial Planck, da Agência Espacial Europeia (ESA), o Universo nasceu há 13 bilhões de anos e seu componente principal é de natureza desconhecida, a denominada energia escura.

Sobre esta misteriosa energia, que compõe a imensa maioria do cosmos, e de outras questões da astrofísica, o professor Schmidt falou em sua entrevista, concedida durante sua passagem por Madri para apresentar palestras.

A que nos referimos exatamente quando dizemos que o Universo está em aceleração. Poderia explicar com um exemplo simples? 
Em nossas pesquisas medimos quão rápido as coisas estão se separando em nosso universo, concretamente como estão se distanciando as galáxias. Se pensamos no universo como uma lâmina de borracha gigante que se expande, um universo em aceleração é aquele onde a lâmina de borracha se estende mais e mais rápido através do tempo.

Há alguma manifestação verificável desta aceleração, inclusive em nossa vida diária?
Até agora ninguém chegou a encontrar nenhuma. Por enquanto a aceleração só se percebe nas escalas cosmológicas de bilhões de anos luz.

Qual é a causa ou motor desta aceleração universal? 
Demos um nome a isso: a energia escura ou a energia da estrutura do espaço. Esta energia, de acordo com a teoria da gravidade de Einstein, faz com que a força de gravidade empurre, ao invés de contrair. Aparentemente, 70 % de toda a matéria do universo é essa energia escura e é o material que está empurrando nosso universo para que se expanda.

Está demonstrado que o universo progride em ciclos de expansão (Big Bang) e contração (Big Crunch)? 
Não. Aparentemente, a partir das medições conhecidas, um ciclo expansivo e de contração é improvável para nosso universo. O cosmos está se expandindo, crescendo a uma taxa determinada. Os indícios apontam que o universo começou a se expandir há 14 bilhões de anos.

Quais são os descobrimentos mais fascinantes feitos a partir da última geração de telescópios? 
Acho que observar o universo que nasceu da Grande Explosão (Big Bang) e buscar planetas similares à Terra são as duas áreas mais atrativas da Astronomia neste momento.

O que é exatamente a energia escura, em que ela se diferença da matéria escura, e do que poderia ser feita?
A energia escura parece fazer parte da estrutura ou tecido do espaço. Está em todas partes e não pode ser mudada. Por sua parte, a matéria escura é mais provável que consista em partículas que ainda estão para ser descobertas, como o neutrino, que pode viajar através da Terra e do universo, a maioria das vezes sem colisões.

A existência de universos paralelos interligados é uma possibilidade real? Se é assim, podemos estabelecer contato com eles? 
Não temos nenhuma evidência científica de tais coisas, e não está muito claro que a informação possa se intercambiar entre eles, inclusive se chegassem a existir.

Que achados ou avanços o senhor fez desde que ganhou o Nobel, e em que está trabalhando na atualidade?
Estive trabalhando no aperfeiçoamento das medições da aceleração e estudando as explosões estelares. Estou liderando um projeto que é a cartografia digital de todo o céu do sul, chamado SkyMapper. Trata-se de um telescópio que toma dados automaticamente a cada noite e que nos ajudará a encontrar as estrelas mais velhas da Via Láctea, buracos negros distantes, planetas anões como Plutão, e a fazer um censo detalhado das estrelas de nossa galáxia.

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